É bem verdade que continuo
– ainda – fazendo livros,
mas, hoje, minha arte,
minha vida, é habitar um lugar,
tornando-me mais um pouco
pedra, árvore, montanha, floresta,
tornando-me verde e também azul,
sol e neblina espessa, ar, noite,
estrelas, os desenhos das constelações
e os espaços que os apagam,
o olhar de algum animal silvestre
que subitamente me olha
não me deixando saber o que vê,
tornando-me oco, cavo, vão,
por onde as águas correm.
E para, na medida do possível,
ser sincero, lhes digo
que mesmo a água, que corre,
não é mais do que um nome
– ainda – necessário
para nos manter aqui, juntos.
Este é o primeiro dos “Poemas escritos no meio do Vale do Socavão”, que fazem parte do livro “mais cotidiano que o cotidiano” (Azougue, 2013), do poeta Alberto Pucheu. Publico aqui para convocá-los a assistir à bela entrevista que Pucheu deu ao programa Umas Palavras, do Canal Futura. Ondas, socos, paredões, versos, teoria, indiscernibilidade: eis a cabeça do poeta – aberta – em movimento. Visitem-na: https://www.youtube.com/watch?v=rZwWmyTNI4s
E tenho ainda um não-segredo para contar para vocês: vários dos livros do Pucheu estão integralmente (em pdf) no site dele, inclusive a reunião de seus primeiros livros de poesia, “A fronteira desguarnecida” (1993-2007) e os trabalhos mais recentes. É só pegar: http://www.albertopucheu.com.br/livros.html