Pensando cá com meus botões sobre essa coisa do ódio, dos palavrões aos berros que não querem deixar falar o “inimigo” político, fico com a impressão de que demos um salto: passamos de uma sociedade em que tudo era assunto, menos política, para uma sociedade em que a política (institucional) é o único assunto, da tevê ao elevador. Não veria problemas nisso, claro, a não ser pelo fato de que esse salto foi tão radical que, entre um ponto e outro, o desprezo se transformou em ódio. Sem escalas. Saltamos, na verdade, passando bem por alto de algumas etapas muito importantes: a compreensão da realidade política brasileira, por exemplo, absolutamente embaçada nesse momento pela poeira dos fogos de artifício que a mídia não cansa de acender. O saldo dessa aventura é que, sabemos, todo excesso cobra uma severa ressaca, ou seja, provavelmente, vamos em breve saltar de volta para o ponto de partida – o desprezo – sem qualquer conquista. Pelo contrário: com perdas significativas. Quero estar errado.