ÍNTIMO DESABRIGO
daqui ouço a voz dos seus talheres inúteis
seu colchão em que afundo a cabeça que já não me serve
chinelos sapatos passam sapatos chinelos pousam
daqui corto os pulsos em suas tesouras cegas
de suas facas o ferrugem escorre como lava como larvas
de pregos faço o castelo em que vai deitar minha hora
os calendários todos que a água podre funde à pedra
as pedras tortas que desaguam nos calendários podres
os dias todos que as pedras podres rasgam do calendário
o céu de concreto o sal dos afetos o mal o mar de asfalto
é sob eles é sobre eles é deles que tento falar mas não
mas não falo a língua gira em sua sopa rala em sua vala
o zíper de sua mochila oca o caco de seu copo tosco
os tocos de sua voz a foz da minha fala nela desaba
onde guardei minha história onde morei até ontem
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Está no youtube o curta-metragem “O lar que nos habita”, que o trio incrível da Mó Documental – Alexandre, Janaína e Joao – fez para o Canal Futura, dialogando com meu poema acima. Irá ao ar, na tevê, em 16/2, às 19h35, mas já dá pra ver no computador. Por favor, assistam, curtam, compartilhem… que a Mó merece!
Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=-2KSykF5RXA
Brigadão!