A criança morreu. O juiz, no entanto, quando chamado de “você”, exige o “vossa excelência”. Ele nunca teve tempo para receber a advogada. Você aí pode até achar que, com aquele auxilião gostoso, ele tem mais motivos para ficar em casa do que no fórum. Mas a nota dos magistrados esclarece: ele é dos mais produtivos, como o CNJ adora. Por isso quer que a advogada seja apenas técnica, não se envolva, não chore. Não venha lembrar que crianças morrem, que crianças apanham e morrem, morrem porque apanham e, por isso, não conseguem esperar juízes muito ocupados com suas metas. O que se espera do advogado, diante disso, é que transforme o “você” que a criança grita em um “vossa excelência” entre tantos que vão esperar pacientemente a atenção — técnica — do juiz dentro de um processo quietinho. Do contrário, o advogado se queima, providências serão tomadas, broncas serão dadas… se a advogada ousou colocar-se diante da excelência com a emoção de uma criança que foge da surra e da morte, será tratada como essa criança “imatura e ingênua”, debaixo de vara, até parar de gritar. A técnica sempre vence. Às vezes, uma criança morre.